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JOSÉ GOLDEMBERG
“O modelo neoliberal não funciona”

A ação que eu tomei em relação à Edusp se enquadrava dentro de uma tentativa mais geral. Integrei a lista para ser escolhido como reitor da USP com a bandeira de reerguer a USP e fui o primeiro reitor depois do período autoritário, escolhido já no regime democrático.

Uma editora universitária tem uma missão maior do que ser uma editora comercial. É claro que ninguém deseja criar um órgão que só dê despesa, mas também uma editora que só dê lucro é uma concepção limitadora demais para uma editora universitária. Então o ponto fundamental era esse. Era uma convicção antiga porque eu já havia ficado impressionado, antes de ser reitor, com a Editora da Universidade de Brasília, que publicava livros muito interessantes, que não seriam publicados por uma editora puramente comercial. E eu achei que a nossa editora devia abandonar a idéia clássica da co-edição, que dava um ranço comercial para as atividades dela. Isso tinha um significado claro: tinha que pôr dinheiro nela; era preciso então dotar a editora de um orçamento.

Em relação à Edusp, o modelo neoliberal não funciona. Dentro da universidade há obras que efetivamente podem dar retorno, mas há muitas obras que não têm nenhuma possibilidade de dar o retorno comercial. Sobretudo algumas teses de doutorado que são feitas dentro da universidade. Eu acho que a Editora deve ter a coragem de fazer isso. Eu acredito que quando Spinoza escreveu os primeiros livros dele ninguém queria publicar, não é?

A Edusp também se enquadra dentro da orientação geral que tentei dar, de criar órgãos com mais autonomia, a substituição da dependência que realmente se tinha do gabinete do reitor, e do reitor, o que era uma herança do viés autoritário. Não é que não deva haver, digamos, canais estruturados de administração e de prestação de contas. Isso é indispensável. Mas, para os institutos e a editora funcionarem, era preciso dar mais autonomia.

Eu fui professor na universidade de Princeton, que tem uma editora fantástica, de modo que eu achei que aquele esquema que existia aqui, de só publicar um livro se tivesse uma editora comercial que se associasse, limitava muito. Eu me lembro de discussões que tive com antecessores do João Alexandre, que argumentavam que alguns desses livros clássicos que a editora tinha publicado tinham encalhado. E eu falava: “escuta, o que você esperava? É melhor que encalhe e que pelo menos algumas pessoas tenham acesso ao livro do que pessoa nenhuma tenha”. De modo que diziam, “mas isso tem um custo”. Eu falava, “mas é para isso que o poder público existe, não é para subvencionar todo mundo, mas é para atender a essas situações”.


José Goldemberg, físico, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, foi reitor da universidade entre 1986 e 1989
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