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Mil títulos em vinte anos
Plinio Martins Filho
A comemoração dos 20 anos de atividade da
Edusp como editora com estrutura própria –
data que coincide com a publicação de seu milésimo
título dentro do modelo inaugurado em
1988 – é uma oportunidade ímpar para refletir sobre as relações
entre o livro e a universidade. A atividade editorial
universitária se desenvolve no contexto dos propósitos acadêmicos
e nas funções que historicamente lhe confere a sociedade
à qual serve, mesmo que, em princípio, estes sejam
distintos dos que animam a indústria editorial em geral.
A universidade não é uma empresa editorial, mas uma
instituição que deve ter como uma de suas atividades a edição
de livros. Sua editora não deve se dedicar à busca de
autores, mas a prover e estimular o trabalho de seus professores
e pesquisadores. O livro publicado pela editora da
universidade deve ser a imagem da instituição que representa,
deve ser o labor de seus professores e pesquisadores;
portanto, seu crédito ou seu descrédito devem ser compartilhados.
O livro universitário contribui ao conhecimento
e à cultura sem a preocupação de se ajustar às condições
do mercado. É um patrimônio com valor próprio e que não
deve ser determinado por critérios que dependam de seu
valor de troca. É obra coletiva por natureza e imagem da realização
dos propósitos universitários.
Assim entendidos, edição, divulgação e comercialização
– sem negar a importância destes fatores – não deveriam ser
o principal problema do livro universitário. Muito mais importante
é colocá-lo ao alcance de seus destinatários, destacando
as qualidades de seu conteúdo através de mecanismos
e meios adequados para isso.
Este problema é mais complexo do que possa parecer. A
natureza especializada e a diversidade dos temas condicionam
uma demanda muito localizada, dificultam a entrada
de nossos títulos nas livrarias comerciais. Desse modo, na
estrutura da editora universitária, a divulgação e a comercialização
requerem planejamento e mecanismos adequados
à natureza e às características de suas publicações, bem
como políticas institucionais adequadas a seus propósitos
culturais e científicos.
É claro que, diante das dificuldades, não é solução a universidade
se dedicar à edição de livros comerciais de interesse
geral, com o objetivo de obter maior aceitação comercial,
pois isso atentaria contra um de seus mais nobres propósitos.
Não é ajustando-se às condições de mercado que a
universidade tem que enfrentar esses problemas. Ao contrário,
ela deve procurar impor ao mercado sua própria especificidade
– um delicado jogo institucional em que a editora
precisa do prestígio e da influência da universidade para
crescer, mas também pode oferecer à universidade, como
contrapartida, um reconhecimento público que vai muito
além do âmbito acadêmico.
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