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HISTÓRIA E PRÉ-HISTÓRIA DE UMA EDITORA
 
Edusp celebra seus 20 anos como uma editora que possui estrutura produtiva e catálogo próprios – período que deve ser contrastado com as quatro décadas posteriores a sua fundação, em que teve papel coadjuvante no panorama editorial. Leia, nas páginas seguintes, depoimentos concedidos ao jornalista Jorge Vasconcellos por intelectuais que fazem parte da história da Edusp e, na seqüência, resenha e entrevista sobre o livro Épicos, da série “Multiclássicos”, milésimo título da editora.

“Edusp – 1000 Títulos – 20 Anos (1988-2008)”. O selo criado para celebrar essa marca, reproduzido na capa da presente edição do Caderno de Leitura, pode provocar estranheza. Afinal, a Edusp foi criada em 1962 (ou seja, há mais de 45 anos) e seu catálogo, se incluídas as publicações desse período, ultrapassa em muito a cifra mencionada pela logomarca das comemorações.

Mas, justamente, o termo “comemorar”, não obstante o caráter festivo que adquiriu, tem a exata acepção de lembrar coletivamente, de rememorar em conjunto ou de compartilhar a memória – naquilo que esta tem de positivo e negativo.

No caso da Edusp, relembrar esses últimos 20 anos significa também recordar os motivos pelos quais o período anterior permanece como um preâmbulo da história da editora – uma fase que deve ser contemplada e analisada, sem dúvida alguma, porém com um olhar crítico que não perca de vista a radical diferença entre os dois momentos.

E esse olhar crítico, por sua vez, é importante não apenas para reafirmar linhas editoriais, estratégias mercadológicas e políticas universitárias que, se dizem respeito aos interesses da Edusp como empresa pública, também servem para reiterar questões de princípio válidas para todas as editoras universitárias – e para todos aqueles que compartilham a idéia de que tais editoras têm uma função específica em nosso panorama cultural e educacional.

A Edusp surgiu dentro de um processo mais amplo de reforma universitária localizado no início dos anos 60. Como observou Leilah Santiago Bufrem no livro Editoras Universitárias no Brasil (Edusp/Com-Arte/Editora da ufpr), “embora o modelo doutrinário fosse idealista, o modelo nacional proposto para a reforma foi o norte-americano. A universidade passou a ser avaliada mais em função da sua produtividade e da organização racional do trabalho”.

O pano de fundo mais amplo desse processo ocorrido nas universidades foi o projeto de modernização da economia (cujo emblema foi a construção de Brasília) e a tentativa de superar o Estado populista com mudanças profundas das relações de produção (as “reformas de base” do governo de João Goulart). De um lado, utopia política; de outro, uma necessidade de modernização que logo assumiria viés autoritário, com o golpe de 64 e a instauração do regime militar.

Sintomaticamente, as duas primeiras editoras universitárias do país surgem em contextos muito representativos desse panorama. Em 1961, é criada a Editora da Unb, ou seja, o braço editorial da Universidade de Brasília, fundada no mesmo ano como parte de um projeto concebido pelo educador Anísio Teixeira e pelo antropólogo Darcy Ribeiro (que seria seu primeiro reitor). E no ano seguinte surge a Edusp, casa editorial da maior universidade do país. Ou seja, são editoras e instituições de cidades que representam um novo momento da política (transferência da capital, tentativa de criar um sistema desvinculado das antigas oligarquias) e da economia brasileira (o papel assumido por São Paulo como epicentro do capitalismo brasileiro, aprofundando – embora sem superar – o fosso entre as esferas pública e privada).

Obviamente, as turbulências do período que vai da renúncia de Jânio Quadros, em 1961 , aos anos posteriores à queda de Jango afetaram profundamente aquele processo de reforma da universidade. A história da UnB e da USP, e de suas respectivas editoras, atravessa as contradições de um período marcado pela repressão, mas ao mesmo tempo pela intensa atividade cultural, de que são exemplo o CPC (Centro Popular de Cultura da UNE), no plano do movimento estudantil, e o cinema novo, no âmbito da produção e renovação estéticas.

Tais manifestações vão sendo progressivamente reprimidas até o momento culminante do Ato Institucional nº 5, de 1968, marco de endurecimento do regime, que assim sepulta as tentativas de resistência por meio de ações institucionais e movimentos sociais (forçados a partir de então à clandestinidade).

COLEÇÃO TEXTO E ARTE
No que diz respeito às universidades e suas editoras (estamos tratando exclusivamente das pioneiras Editora UnB e Edusp), cria-se uma cisão entre a efervescência ideológica dos campi e a gestão tecnocrática. No caso da UnB, que sofreu uma intervenção mais brutal dos militares – seja por sua proximidade geográfica ao centro do poder, seja pelas conotações utópicas de seu “plano piloto” –, a editora, que começara a publicar em 1963, não lançaria um título sequer em 1964 e apenas cinco no ano seguinte, segundo Leilah Bufrem.

Já a Edusp, criada oficialmente em 9 de março de 1962, permanece em estado de latência: publica um bom número de títulos (cerca de cem) nos dois primeiros anos, mas hesita entre a constituição de uma estrutura editorial própria (sobretudo de uma linha editorial própria) e a participação econômica em livros de editoras privadas. Hesitação que acaba em 1968, ano a partir do qual – e por duas décadas – a Edusp passa a publicar exclusivamente em regime de co-edição.

Essa contextualização é importante para explicar o pano de fundo contra o qual a Edusp surge menos como uma editora do que como órgão público destinado a subvencionar obras voltadas para o circuito acadêmico, minimizando o risco das empresas privadas.

Como observam o jornalista Marcello Rollemberg e o atual presidente da editora no livro Edusp – Um Projeto Editorial, essa diretriz esteve presente na política administrativa da editora desde os primórdios, conforme atesta documento de 1963, enviado por Mário Guimarães Ferri (então presidente da Comissão Editorial, depois presidente da Edusp por duas décadas) ao reitor Luís Antônio da Gama e Silva (mais tarde ministro da Justiça do governo Costa e Silva e redator do AI-5).

Nessa carta, Ferri justifica o fato de a comissão ter decidido pela publicação de sete obras em edição própria, contra 81 em regime de co-edição, afirmando que “a editora privada pode, desta forma, ter a segurança de que a edição daquela obra não será um fracasso econômico”.

Convertida a Edusp em agência financiadora, sua burocratização parece ser a contrapartida de um processo mais amplo de implantação da máquina estatal, voltada para atuar nos setores em que a esfera privada não pode correr riscos, segundo o modelo da modernização autoritária e protecionista. Com a diferença de que, diferentemente das indústrias de base criadas pelos militares, a Edusp não constituiu um patrimônio público; ao contrário, permitiu o crescimento de muitos patrimônios privados, já que preservou em sua estrutura a herança do clientelismo.

Quando o professor de literatura João Alexandre Barbosa assumiu a presidência da editora, em fins de 1988, com a meta de construir uma editora de fato, uma de suas primeiras tarefas foi identificar os vícios criados pelo sistema de co-edição. À parte ser incoerente que a mais importante universidade brasileira não tivesse uma editora digna de sua produção acadêmica e do público universitário, ficou evidente que esse “modelo” havia dado lugar a privilégios na política da Edusp, com algumas poucas editoras monopolizando seu catálogo de co-edições.

E, tão grave quanto essas práticas clientelistas, era o fato de tais acordos de co-edição, restritos ao aspecto financeiro, não preverem contrato de direito autoral – permanecendo o copyright das obras em mão da editora privada. Ou seja, os cerca de dois mil títulos publicados pela Edusp desde a fundação até o momento de sua “refundação” compõem um castelo de cartas, pois menos de 5% desses títulos correspondem a obras cujos contratos de cessão direitos incluem a Edusp.

É importante levar isso em conta no momento em que se anuncia a comemoração dos mil títulos publicados pela Edusp, uma cifra que seria três vezes maior se a política de co-edições não tivesse onerado o acervo da editora durante mais de 20 anos.

O ano de 1988, portanto, deve ser considerado aquele em que se inicia o projeto de fazer da Edusp uma editora. Houve antes uma fase de transição, em que o professor José Carneiro (presidente da Edusp entre 1985 e 1988) esboçou a criação de um departamento editorial (na verdade limitado a uma modesta seção de publicações com apenas dois profissionais) e sem uma proposta de longo curso. Mesmo assim, há que se lembrar que alguns livros que são hoje referência obrigatória – como O Método Crítico de Sílvio Romero, de Antonio Candido, e Presença e Campo Transcendental: Consciência e Negatividade na Filosofia de Bergson, de Bento Prado Jr. – foram lançados numa coleção de teses criada na gestão de Carneiro.

João Alexandre Barbosa tomou posse na presidência em 27 de dezembro de 1988. A partir do ano seguinte começaria um trabalho sistemático, que incluiu desde a criação de uma identidade visual (logomarca, design de coleções e capas de livros), a constituição de Departamento Editorial (com editores, revisores e designers sob coordenação de Plinio Martins Filho, atual presidente da Edusp) e, sobretudo, a concepção de uma linha de edições próprias, com a participação de uma comissão editorial composta por intelectuais de expressão nacional.

Durante a gestão de João Alexandre, a prática da co-edição não foi suprimida, mas os critérios tornaram-se transparentes, o que pode ser constatado pela pulverização das parcerias com diversas editoras com catálogos identificados com a reflexão acadêmica. Além disso, a co-edição já não implicava apenas o repasse de verbas, mas previa a divisão de tarefas editoriais, algo só concebível com a existência de uma equipe de trabalho interna. E, talvez o mais importante, a Edusp passava a ter direitos de republicação da obra co-publicada, perfazendo um fundo editorial.
COLEÇÃO CLÁSSICOS
O fato, porém, é que a edição própria passou a ser o objetivo primordial da Edusp, transformando-a em canal da produção da universidade e, ao mesmo tempo, em editora voltada para a tradução de obras clássicas e estudos de ponta.

Comparando-se a gestão de João Alexandre com a dos dois presidentes que o sucederam – Sergio Miceli e Plinio Martins Filho – nota-se uma nítida transição entre uma primeira fase, mais preocupada em apresentar à comunidade universitária e ao leitorado acadêmico uma linha consistente, e uma fase posterior, em que o prestígio e o lugar ocupado pela Edusp já estão consolidados, permitindo projetos mais ambiciosos do ponto de vista financeiro e maior liberdade em relação à coerência visual.

O período de consolidação foi marcado por coleções que deram um rosto inconfundível à Edusp, em geral com projeto gráfico que explorava a economia visual e a tipologia da logomarca da editora. São séries com diferentes campos temáticos e níveis de abordagem, como “Campi” (teses de doutorado e dissertações de mestrado), “Ponta” (livros que indicam tendências em campos como sociologia, antropologia, epistemologia etc.), “Ensaios de Cultura” (que inclui reflexões de crítica literária, sociologia, filosofia, lingüística), “Criação e Crítica” (textos literários seguidos de análise) e “Texto e Arte”.

Esta última coleção – com abordagem ensaística de temas de artes plásticas, cenografia, fotografia etc. – apresenta um suporte visual (formato grande, impressão em quatro cores) que àquela época antecipava as inovações trazidas pela presidência de Sergio Miceli (1994-1999).

Com o sociólogo à frente e contando com garantia financeira da reitoria da USP, a Edusp tornou-se uma editora mais ousada do ponto de vista da produção gráfica. Não havendo a injunção de fixar uma identidade visual e num momento de poucas restrições orçamentárias, a Edusp lançou importantes coleções dedicadas às artes plásticas, como “Artistas da USP” e “Artistas Brasileiros”, além de ter dado continuidade à “Texto e Arte”

A questão do aporte financeiro da Edusp é uma tecla sobre a qual existe unanimidade entre todos os envolvidos na criação da editora, desde o reitor José Goldemberg (que deflagrou o processo e convidou João Alexandre para conduzilo) até os membros da comissão editorial. Esse é um ponto que distingue as editoras universitárias das editoras comerciais: a missão de publicar obras importantes para o sistema educacional, e que de outra maneira permaneceriam inéditas, só pode ser cumprida se houver recursos que compensem sua modesta inserção mercadológica.

Mesmo assim, a Edusp tem procurado equilibrar títulos dessa natureza com obras que, sem desvirtuar seu catálogo, almejam a auto-suficiência econômica da editora, que assim não mais seria dependente apenas da dotação orçamentária da universidade. Nesse sentido, importante fonte de receita são as obras de referência como os da coleção “Didática”, de grande abrangência de público e que já tiveram diversas edições – caso, por exemplo, da História do Brasil de Boris Fausto.

Outro item que garante autonomia foi a reformulação dos procedimentos de comercialização, tanto na rede de distribuição nacional quanto nas livrarias próprias, com novas unidades nos diversos campi e com a venda de livros das mais importantes editoras do país.

Desde 1999, já sob gestão de Plinio Martins Filho, a Edusp vem publicando séries de grande envergadura, como o Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngüe: Língua de Sinais Brasileira (Libras) (dois volumes) e a Enciclopédia da Língua de Sinais Brasileira (cinco volumes publicados), de Fernando César Capovilla e Walkiria Duarte Raphael. Coeditadas com a Imprensa Oficial, estas obras documentam os sinais do universo do surdo e constituem instrumento pedagógico para desenvolvimento das linguagens de sinais e escrita por crianças e jovens com deficiência auditiva. Este é um exemplo claro de obra que, extrapolando o âmbito da produção acadêmica propriamente dita, é dependente da pesquisa universitária, desdobra seu saber numa práxis social e só poderia se materializar em livro a partir da iniciativa de uma editora universitária.

Outros projetos de grande extensão, que exigiram fôlego e continuidade da política editorial, são a Enciclopédia Agrícola (cujos seis volumes, na forma de verbetes, foram fruto de um esforço monumental de pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP) e os até agora seis volumes da História da América Latina.

Finalmente – e aqui o autor desse texto fala como quem participou de parte da gestão de João Alexandre (como editor- assistente) e acompanhou de perto os trabalhos de Sergio Miceli e Plinio Martins Filho –, é preciso dizer que o compromisso de dar continuidade administrativa entre diferentes mandatos, não interrompendo compromissos assumidos e mantendo projetos editoriais, é uma exigência incontornável, porém não cancela as marcas pessoais deixadas por cada editor.

Assim, se a Edusp de João Alexandre tinha inequívoca propensão para o ensaio (gênero literário do qual ele mesmo foi representante) e se a Edusp de Miceli deu ampla acolhida às artes plásticas e a livros sobre seu sistema de produção social, não deve estranhar que a Edusp atual seja uma editora que prima pelo requinte visual, pela pesquisa de soluções gráficas para o suporte físico do texto – certamente fruto da longa trajetória de seu presidente como pesquisador apaixonado da história do livro.

Não há melhor exemplo disso que a Caixa Modernista, organizada pelo professor de literatura espanhola Jorge Schwartz, com edições fac-similares de revistas e livros dos autores da Semana de Arte Moderna de 1922. Um objeto como esse expande nossa idéia de editoração e mostra que, após superar um período burocrático, a Edusp não apenas se consolidou como uma das mais importantes editoras universitárias do país, mas também contribui para renovar o panorama editorial brasileiro como um todo. São esses 20 anos de história, com seus mil títulos, que devemos comemorar.































COLEÇÃO PONTA

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