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“Editora universitária sem recursos é impossível”
Quando entrei na presidência, já havia começado um processo de modernização da Edusp. A editora estava numa situação politicamente muito favorável na universidade, eu tinha total apoio do reitor Flavio Fava de Moraes para fazer um programa editorial. Não tinha nenhuma constrição de dinheiro, de recursos, e isso é uma coisa rara: possibilitou a compra de muitos livros estrangeiros, a montagem de coleções novas, um certo capricho editorial, coleções que eram caras, como “Artistas da USP”, “Artistas Brasileiros”, porque exigiam cadernos de imagens a cores. Mas foi sendo viável fazer tudo isso.
Havia a preocupação de fazer publicações que usassem o acervo da USP. Fizemos isso com o material encontrado no Museu Paulista, fizemos um guia do IEB, sempre preocupados com o fato de que a USP tinha muitos acervos, mas valorizava-os pouco.
Na universidade acho que a coisa que mais teve repercussão foram os concursos da seleção das monografias para a coleção “Acadêmica”, onde entraram trabalhos de física, química, matemática, coisa que nunca tinha se visto na universidade.
Eu não entrei numa Edusp que tive que inventar do nada. Existia lá uma divisão de trabalho, existia um setor comercial, as coisas estavam de pé. Talvez o João Alexandre Barbosa não tenha tido esse céu de brigadeiro o tempo todo, em termos de recursos.
Visto friamente, acho que a autonomia da Edusp tem alguns pontos de interrogação. A autonomia de uma editora universitária é sempre uma coisa muito relativa, entre aspas: a editora universitária jamais conseguirá se sustentar com os livros que vende, nunca vai entrar no azul. Quando dizem que a Oxford University Press ou a Cambridge University Press estão no azul, a resposta é que estão no azul porque têm 300 anos de vida, 300 dicionários e um catálogo clássico. Se considerarmos só o que se está fazendo de novo, livros que só se vendem nas universidades, isso não bota ninguém no azul.
Você não pode tocar uma editora comercial sem ter bons títulos que vendam, mas uma editora universitária sem recursos é coisa impossível. A Edusp já tem um fundo, já pode usar a reedição. Mas é difícil assim mesmo. Não obstante, eu acho que é uma editora que chegou, inclusive por conta do trabalho do Plinio Martins Filho, a ter um padrão de acabamento notável – isso não existe no Brasil.
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Sergio Miceli, professor de sociologia na USP, foi presidente da Edusp entre 1994 e 1999 |
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