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Do Silêncio ao Eco – Autismo e Clínica Psicanalítica Luciana Pires
Edusp/Fapesp, 128 págs. – R$ 25
A abordagem do autismo pela psicanálise tem algo de paradoxal
– e por isso mesmo representa um dos campos mais desafiadores
da clínica e da teoria psicanalíticas. A condição do autista
é a da incomunicabilidade, da ausência de contato, ao passo
que a prática terapêutica se dá justamente pelo encontro
entre analista e analisando. Entretanto, como mostra esse
estudo de Luciana Pires, existem brechas pelas quais a falta
de transferência primordial (um dos traços do autista) pode
ser trabalhada. Com base numa experiência em Tavistock (Inglaterra),
discutindo conceitos formulados por clássicos da psicanálise
como Melanie Klein e Donald Winnicott e por teóricos como
Anna Alvarez e Luís Claudio Figueiredo, a autora traz casos
clínicos e uma reflexão baseada num amplo conhecimento bibliográfico:
analisa fenômenos como inacessibilidade e ecolalia (modalidade
de afasia que consiste na repetição mecânica das frases
ouvidas) para propor novos paradigmas que respondam à pergunta
fundamental: como pode se dar o contato com a criança autista?
Anita Malfatti no Tempo e no Espaco Marta
Rossetti Batista Edusp/Editora 34, 824 págs. – R$ 89
Resultado de pesquisa exaustiva e rigorosa, ao longo de
mais de quarenta anos, o livro de Marta Rossetti Batista
– Anita Malfatti no Tempo e no Espaço – tem como
objetivo “compreender a produção, a motivação da
pintora e a recepção no seu tempo”, segundo a autora. Fartamente
ilustrado, o livro apresenta em detalhes a trajetória de
Anita, desde o período de formação, passando pela turbulência
do modernismo – para o qual sua obra foi um modelo –, a
rejeição dura de Monteiro Lobato, no artigo polêmico “Paranóia
ou Mistificação?”; e o apoio dos poetas Mário e Oswald de
Andrade, até a consagração como uma das artistas brasileiras
mais importantes do século xx. O impacto renovador de sua
intevenção ultrapassou o campo das artes plásticas, mas,
paradoxalmente, provocou o isolamento progressivo de Anita,
que se voltou para pesquisas sobre a arte popular e para
uma produção mais próxima do primitivismo, numa síntese
pessoal do ideário modernista: sintonia com o espírito das
vanguardas e mergulho nas fontes do imaginário brasileiro.
A pesquisa é publicada em dois volumes, sendo o segundo
tomo dedicado à catalogação do acervo de Malfatti, relacionando
cerca de 1300 obras da artista e uma lista de suas exposições,
o que constitui um material imprescindível para pesquisadores
ou profissionais da arte. Este livro de Marta Rossetti Batista
ficou em primeiro lugar na categoria Biografia do prêmio
Jabuti de 2007.
O Sósia – Problemas do Teatro
Friedrich Dürrenmatt Tradução de Rogério Silva Assis Edusp, 104 págs.
– R$ 23
Dissidente – O Programa de Televisão Michel Vinaver
Tradução de Catarina Sant’Anna Edusp, 152 págs. – R$ 25
Dois novos lançamentos da coleção “Em Cena” trazem trabalhos
do escritor suíço Friedrich Dürrenmatt (1921-1990) e apresentam
ao público brasileiro a dramaturgia de Michel Vinaver (nascido
na França em 1927). O Sósia é uma peça radiofônica
escrita por Dürrenmat em 1946, na qual as figuras do Diretor
e do Escritor discutem a montagem de uma peça sobre o tema
do “duplo”, do conflito entre um homem e seu sósia – que
se desdobra no tema da justiça e da misericórdia divina.
Com estudo introdutório de Celeste Ribeiro de Sousa, inclui
ainda o ensaio “Problemas do Teatro”, de 1955, no qual o
dramaturgo expõe suas divergências em relação a Bertolt
Brecht. A herança brechtiana, por sua vez, está presente
na obra do escritor francês, como assinala Catarina Sant’Anna
em “Vinaver à flor da Linguagem: Entre Heranças Vanguardistas
e Brechtianas”, texto de apresentação que ilumina esse teatro
feito de uma sucessão de instantes e de frases sem pontuação,
resultando numa estrutura que cristaliza a fragmentação
da linguagem cotidiana e se torna intencionalmente opaca
aos pontos de vista estáveis.
Revista
Dramática: São Paulo, 1860 Edusp, 132 págs. – R$ 97
Ópera em
São Paulo: 1952-2005 Sergio Casoy Edusp, 608 págs. – R$ 120
Seguindo a boa acolhida da edição fac-similar do Diabo
Coxo, a Edusp lança a coleção das edições da Revista
Dramática, de 1860, primeiro periódico em São Paulo
a dedicar-se exclusivamente aos assuntos teatrais. A revista
era dirigida pelo estudante de direito José Joaquim Pessanha
Póvoa e acompanhava, semanalmente, a produção teatral de
São Paulo e Rio de Janeiro com críticas pontuais e reflexões
abrangentes sobre o gênero dramático. Apesar de terem sido
apenas 22 números, a Revista Dramática representa
um importante documento de formação de nossa crítica literária
e da história do teatro brasileiro. Edição fac-similar da
revista. Já no livro Ópera em São Paulo – 1952-2005,
Sergio Casoy reúne detalhada informação sobre todos os espetáculos
realizados no período, incluindo fichas técnicas, cronologias
e entrevistas. Entre os entrevistados destacam-se o crítico
João Câncio Póva, o maestro Jamil Maluf e o jornalista Lauro
Machado Coelho, entre outros.
Alex Flemming
– Obra Gráfica 1978-1987 Org. de Mayra Laudanna Edusp, 224
págs. – R$ 78
Precedido de ensaio da organizadora, esse título da série
“Artistas da USP” reúne um conjunto iconográfico que permite
contemplar, em estado nascente, o uso singular que Alex
Flemming faz da fotografia. Por sua importância no cenário
artístico, Flemming vem sendo tema de inúmeros estudos,
em especial o livro de Ana Mae Barbosa publicado pela Edusp
na coleção “Artistas Brasileiros”. No presente volume estão
impressas fotogravuras que mostram como o artista brasileiro,
radicado em Berlim, lança mão de recursos técnicos de reprodução
do real para “desrealizar” corpos e lugares – sem com isso
perder seu poder de inserir na representação um viés crítico.
Imagens de torturados pela repressão latino-americana (na
seção “Natureza morta”), fragmentos de corpos (“Eros expectante”),
retratos de anônimos e intervenções sobre estampas populares
se transformam em puro ícone; são, ao mesmo tempo, instantâneos
de um procedimento estético amplificado em suas telas ou
serigrafias de intenso cromatismo e um exemplo do modo como
Flemming trabalha a fotografia: apropriando-se de registros
cotidianos ou jornalísticos, dá-lhes nova vida por meio
de colorizações e efeitos de envelhecimento, preservando
porém a memória de seu conteúdo social ou político.
A Fauna de São Paulo nos Séculos XVI ao XVIII
Nelson Papavero e Dante Martins Teixeira (orgs.)
Edusp, 300 págs. – R$ 95
Pesquisa Ambiental: Construção de um Processo
Participativo de Educação e Mudança Myriam Krasilchik, Nídia Nacib
Pontuschka (coordenação) Helena Ribeiro (edição) Edusp, 272 págs. – R$
60
A Fauna de São Paulo, organizado por Nelson Papavero
e Dante Martins Teixeira, enfeixa textos primorosos de cronistas,
viajantes e missionários dos séculos xvi ao XVIII sobre
a variada fauna paulista do passado colonial. A partir dos
relatos de Anchieta, Hans Staden, Afonso Taunay, entre outros,
o leitor, pesquisador ou curioso, fica sabendo de uma riqueza
que se perdeu e de sua distribuição por uma topografia que
também se transformou drasticamente, como na região do rio
Tietê. No confronto com a diversidade do passado se tem
uma noção assustadora da degradação vivida nos dias de hoje
e a necessidade imperiosa de medidas que possam reverter
esse quadro. No mesmo contexto de questões ecológicas, o
livro Pesquisa Ambiental, coordenado por Myriam
Krasilchik e Nídia Nacib Pontuschka e editado por Helena
Ribeiro, traz um amplo estudo interdisciplinar sobre a preservação
do meio ambiente e a participação da comunidade, nos municípios
de Espírito Santo do Turvo e Vera Cruz, no interior de São
Paulo.
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